
Faz 2 anos no dia 3 de Setembro que, a minha prima T. foi atropelada, numa passadeira, no centro da Parede, em plena hora de almoco, logo, com bastantes testemunhas.
Saiu de casa para ir ao Pingo Doce comprar umas coisas e voltaria, de seguida, para casa. Eram 8 da noite e ainda nao tinha voltado, causando a todos nós uma preocupacao enorme, pois apesar de ter quase 30 anos, nao era costume desaparecer e ter o telemóvel desligado tantas horas seguidas...
A minha tia foi directa á esquadra da policia que lhe disse que tinham sido chamados á hora do almoco para um atropelamento no centro da vila, mas que nao sabiam a identificacao da vitima, que se encontrava inconsciente e muito mal tratada.
Após um telefonema da policia para o Hospital, confirmaram que uma mulher da faixa etária da minha prima, tinha dado entrada no hospital, mas que era muda, pois, após recuperar os sentidos, apenas falava em linguagem gestual.
A T. estava na faculdade a tirar Psicologia Pedagógica, com uma vertente ligada ás criancas com deficiencias a nivel da fala e audicao, tendo, para isso um curso de linguagem gestual. É uma miúda 5 estrelas! E por isso, na impossibilidade de falar, gesticulou. O nosso cerebro nao brinca em servico!!
Depois de a familia ter chegado ao hospital tudo se explicou: Traumatismo cranianao com fractura, fractura de um omoplata, 4 costelas com 2 perfuracoes de pulmao e nas pernas... Nada! Mas como nada, se o carro lhe deve ter batido na zona da anca???
Nada da cintura para baixo gracas á Mimosa, essa mesmo!! Ela trazia uma palete de 6 litros de leite Mimosa do Supermercado e foi neles que o carro bateu. Sorte no meio de tanto azar!
Mas o carro bateu-lhe com tanta forca que a projectou de um lado da estrada para o outro, só tendo parado porque, no passeio estavam umas proteccoes metálicas para os carros nao estacionarem, onde ela bateu com a cabeca, explicou depois a Policia. Segundo testemunhas o individuo que conduzia o veículo, saiu do carro e levantou a minha prima do chao e arrastou-a para mais longe da passadeira, para dar a sensacao á policia de que ela estaria fora da passadeira. Mas que ser humano faz isto a uma rapariga que acabou de atropelar e se esvai em sangue??? Em vez de ligar o 112 ou tentar pedir ajuda?? Valeram as testemunhas.
Depois de muitos meses de hospitais, do veredicto dos médicos de que ela teria sempre uma nuvem na vista, pois a lesao e a nivel do cortex e nao foi devidamente tratada no Hospital, veio o drama da seguradora, que queria a todo custo livrar-se da T.. Desta vez valeu-lhe a advogada amiga, com uma forca e garra desmedidas e que avancou com o processo para o Ministério Publico. Aí ficou a barraca armada e a seguradora passou ao ataque.
Neste momento já nao paga as milhentas despesas de médicos e exames que a T. precisa, e da última vez que ala foi ao médico da seguradora, o Sr Dr teve uma conversa surreal com ela. Do tipo: "Metes-te o Min. Público ao barulho, agora estás feita! Nem sabes onde te vais meter! Devias ter resolvido tudo connosco e evitavas os problemas que vais arranjar!". A T. saiu de lá com vontade de desistir, de nunca mais ir ao médico, de se resignar. Sente-se a acusada, a culpada de tudo que lhe aconteceu.
Perdeu o ano na faculdade e nao pode voltar tao cedo, pois tem que aguardar que o cerebro dela esteja recuperado, e isso pode demorar anos, perdeu o emprego, perdeu a auto-estima e entrou numa depressao que faz dó!
O fulano que a atropelou, ficou (só) com um agravamento no seguro e, há quase 2 anos, anda a conduzir por aí como se nada fosse. Nem uma palavra, nem um pedido de desculpas, nada! Se bem que nem sei se a minha tia o apanhasse pela frente, se nao lhe partiria a tromba toda!
Como a justica em Portugal é muito eficaz, o processo está, e estará, em tribunal, a seguradora nao paga mais nada, pois está tudo a ser alvo de contabilizacao para efeitos indeminizatórios e a minha tia toca de se chegar á frente. Até quando?
Porque teem as vitimas de ser tratadas como criminosos, quando reclamam os seus direitos?
Isto é justo?
T. meu amor, gosto muito de ti e nao gosto nada de te ver neste processo de auto-destruícao. Tu és linda por dentro e por fora.